quarta-feira, 15 de junho de 2011

3) O transporte é uma mercadoria?
    
     A grande solução para resolver o problema trânsito nas cidades e todas as complicações que este gera, seria privilegiar o transporte coletivo, levando as pessoas a optarem por ele ao invés do individual.
     Acontece que a situação dos transportes coletivos no país é dramática. Os trens, metrôs, ônibus são insuficientes, muitas vezes mal articulados, desconfortáveis, principalmente pela superlotação e ainda por cima, caros; assim as pessoas evitam ao máximo usá-los.
     Existem várias razões para essa situação. A primeira é o interesse das empresas montadoras; melhorar o transporte coletivo significa a possibilidade de romper com o modelo rodoviário instituído no Brasil, além das empresas petroleiras e de combustível, autopeças, mecânicas ... ou seja, são muitos interesses privados que impedem uma melhoria no sistema de transporte que é de interesse de todos.
     Além disso, ainda existe o problema do gerenciamento do transporte coletivo, majoritariamente pela iniciativa privada. É importante entender que o objetivo dessas empresas é lucrar a partir do direito de ir e vir das pessoas. Para isso, a fórmula de todas as empresas é gastar pouco (com veículos, combustível, salário, manutenção...) e arrecadar muito dinheiro; com isso, os serviços são de baixa qualidade e por um preço elevado e como as pessoas precisam usar o transporte coletivo e não têm outra alternativa, terão que fazê-lo, mesmo que o transporte seja ruim.
     O transporte coletivo é cedido às empresas pelo modelo de licitação, que concedem o monopólio do transporte a alguma empresa por determinado tempo. Como é um negócio muito lucrativo, muitas vezes se instalam verdadeiras máfias na cidades que fazem acordos com políticos e ganham a licitação por várias vezes seguidas ou sequer elas acontecem. Em Juiz de Fora mesmo, há mais de trinta anos não há licitação e existem vários casos de escândalos de políticos envolvidos com suborno das empresas que operam os ônibus ... estranhamente familiar, não é ?!
     Além de tudo isso, enquanto geógrafos devemos nos propor a refletir também sobre o preço dos transportes. O elevado custo leva muitas pessoas a evitar ou desistir de se locomoverem. Em São Paulo por exemplo, um trabalhador que ganha um salário mínimo e paga duas passagens por dia, gasta quase um terço do seu salário com locomoção, se tiver família então, o caso se agrava. Como será possível então garantir à milhões de pessoas que se enquadram nesses e outros casos, o direito de ir e vir, se eles não tem dinheiro para isso?
     Nas cidades, os centros de cultura, lazer, consumo geralmente se encontram nos centros das cidades. Como garantir cultura à essas pessoas, se elas não conseguem chegar até lá?
     Além disso, o preço dos transportes é uma das principais causas da evasão escolar, quando o aluno ou a família não consegue pagar para chegar à escola ou universidade, acabam desistindo dos estudos temporária ou permanentemente.
     Para ser um direito de todos de verdade, o transporte deve se encontrar acessível para todas as pessoas. E somente um serviço público gratuito e de qualidade vai proporcionar plenamente o direito de ir e vir à todos os brasileiros, sem nenhuma discriminação.

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